No último dia 4 de setembro, foi realizada, no Hospital Unimed Bauru, a primeira cirurgia robótica em criança. O procedimento é inédito no Sistema Unimed e foi considerado um sucesso tanto pelos médicos e profissionais que atuaram na operação quanto pela família do paciente. “Quando indicamos uma cirurgia assistida por robô, a primeira grande surpresa da família é saber que este procedimento já pode ser realizado na Unimed Bauru, o que nos causa felicidade e satisfação por oferecer este benefício aos pequenos pacientes”, destaca a médica uropediatra responsável pelo procedimento, Marilyse Fernandes.
Ela contou com o auxílio dos urologistas Marcelo Galesso e Márcio Sales, tendo como proctor Paulo Renato Moscardi, uropediatra de São Paulo. “A cirurgia assistida por robô é o que há de mais moderno no campo da medicina e, ao poder utilizar essa técnica no interior do Estado, estamos proporcionando espaço para que mais crianças tenham acesso a uma tecnologia cirúrgica minimamente invasiva cada dia mais utilizada nos melhores hospitais do mundo”, frisa a doutora.
O procedimento, chamado de ureterolitotomia robótica, durou cerca de 4 horas. “Tivemos a oportunidade de cuidar de uma criança de 6 anos, com um cálculo de 2cm que obstruiu o ureter proximal. Ela apresentava crises de dor em cólica, acentuada dilatação da pelve e dos cálices renais, além de apresentar sequelas definitivas neste rim com importante comprometimento da sua função”, explica Marilyse. A paciente recebeu alta hospitalar após completar 48 horas de observação, apenas com dor de leve intensidade nas incisões cirúrgicas.
A seguir, a médica detalha a importância da realização desse tipo de procedimento e como foi o preparo da equipe para isso:
O que a cirurgia robótica traz de vantagem para o paciente e para o médico?
Para o paciente, a grande vantagem é a recuperação pós-operatória, mais rápida e menos dolorosa, tempo de internação mais curto e com necessidades e analgésicos menos potentes. Para o cirurgião, o uso do robô proporciona visão em 3D e lente de aumento de visão de 10 vezes, o que é excelente porque podemos enxergar com maior nitidez e manter a sensação de profundidade. Há redução de tremores, que diminui o risco de acidentes, além da grande sensibilidade e precisão nos movimentos dos instrumentos. E talvez o mais importante seja o fato do robô proporcionar uma amplitude de movimentação das pinças cirúrgicas muito maior que a mão do cirurgião. Ou seja, as pinças robóticas conseguem fazer uma rotação completa de 360 graus, e tal grau de movimento do punho é inatingível pelo corpo humano.
É importante ressaltar que, embora seja feita por robô, a cirurgia é toda coordenada pelo médico responsável e sua equipe.
Esse é um assunto que causa grande curiosidade nas pessoas. O robô ou carrinho do paciente é o nome que damos ao equipamento tecnológico de última geração que sustenta as pinças e instrumentos que serão utilizados durante a cirurgia. Quem realiza a cirurgia é sempre a equipe médica, sendo o cirurgião principal o médico que comanda os braços robóticos através de um console com visão 3D que mostra em alta definição a posição e movimentos das pinças cirúrgicas dentro do paciente. Pelo manuseio de um controlador ou joystick preso aos dedos e alguns pedais comandamos o robô, que executa os movimentos e manipula os tecidos e órgãos com muita precisão, diretamente do console onde estamos sentados. Outros dois médicos auxiliares ficam ao lado do paciente e atuam na troca das pinças cirúrgicas, entrada e saída de fios de sutura, drenos e cateteres.
Quais cirurgias são indicadas para o uso de robô em crianças?
A cirurgia robótica demorou a ser totalmente aceita na uropediatria, em parte devido ao emprego da assistência robótica inicialmente ter sido planejado para os adultos. No entanto, com o ganho de experiência pelas equipes médicas e os excelentes resultados obtidos ao longo de mais de uma década, atualmente a pieloplastia robótica, por exemplo, tornou-se o método padrão-ouro para o tratamento da estenose da junção pieloureteral (JUP) nas crianças a partir dos 10 meses de vida! Conforme a cirurgia robótica tem sido mais adotada e difundida, seu uso é aplicado a um número maior de doenças, fornecendo taxas de sucesso similares ou maiores às obtidas com a cirurgia laparoscópica ou pela cirurgia convencional. Esses procedimentos incluem nefrectomia parcial, reimplante ureteral e uretero-ureteroanatomose. Adicionalmente, a cirurgia robótica pediátrica é viável e com resultados comparáveis à cirurgia convencional aberta, nos procedimentos para a reconstrução do colo da bexiga, ampliação vesical, ressecção de divertículo uretral e derivação urinária continente.
Quantos médicos são habilitados no Brasil para realizar esse tipo de cirurgia em crianças? É preciso realizar treinamentos e cursos?
O número de colegas habilitados para a execução de uma cirurgia robótica é crescente em todas as especialidades. E independentemente da especialidade é necessário certificação internacional para estar apto a realizar qualquer procedimento robótico. Essa certificação é fornecida após curso de formação e avaliação rigorosa. Durante a curva de aprendizagem do novo método pelo cirurgião, um proctor é necessário. O termo proctor refere-se a um médico com ampla experiência na técnica robótica, treinado a acompanhar as primeiras cirurgias de um colega recém-certificado e auxiliá-lo quando necessário. Eu fiz uma pós-graduação em cirurgia robótica em urologia no Hospital Israelita Albert Einstein de 460 horas incluindo aulas práticas, participação em cirurgias, além de diversas aulas teóricas. Sendo posterior a avaliação e certificação, que pode ser realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, ou outros centros de certificação da Intuitive (fabricante do robô Da Vinci) pelo mundo. Atualmente, a Unimed Bauru, por meio do Cehub, também oferece aos seus cooperados e demais colegas médicos de outras cidades, um curso de capacitação em cirurgia robótica que habilita para a posterior certificação.
Fotos: Rogério Lopes/Divulgação